O TREINAMENTO PRÁTICO DO PILOTO PRIVADO
O TREINAMENTO PRÁTICO DO PILOTO
PRIVADO
Bem-vindo a mais uma edição do Journal da BREVETT
Inteligência Aeronáutica.
Após a leitura do Journal anterior, tendo
agora o conhecimento básico das exigências de horas de voo e geral, do treinamento,
vocês estão preparados para compreender e julgar o treinamento prático de
manobras aplicados aos alunos pilotos nas Escolas de Aviação Civil.
O que
muitos não sabem, é que, se uma Escola de Aviação Civil é regida
pelo RBHA 141, sua estrutura e organização são bem definidas neste
Regulamento.
No entanto, o mesmo não demonstra ou expressa nenhum detalhamento
à respeito das manobras e formas de avaliação do Piloto no curso de Piloto
Privado, ou qualquer outro.
Ligado a este regulamento, sempre há um Manual
de Curso, que em sua maioria, foram desenvolvidos na década de 1990 pelo
Instituto de Aviação Civil (IAC) que fazia parte do antigo Departamento de
Aviação Civil (DAC), que era uma seção dentro do Comando da
Aeronáutica.
Para uma melhor compreensão desta estrutura, sugerimos a
leitura do Journal As Escolas de Aviação Civil – Panorama
Geral.
Clique aqui para acessar o Journal As Escolas de Aviação
Civil - Panorama Geral.
Portanto, sempre que uma escola pretende homologar um
curso, ela deve seguir as normas e procedimentos do Manual do Curso específico.
O
curso de piloto privado avião e helicóptero são regidos pelos MCA 58-3 e MCA
58-4, respectivamente.
Nestes manuais, por exemplo, há listado exatamente a
estrutura do treinamento, que como explicado no Journal citado acima, delimitam as manobras que
devem ser executadas pelo piloto privado.
No caso do avião, o treinamento do
piloto deve abranger, por exemplo: Voo em retângulo, estol com e sem motor, voo planado, pane
simulada a baixa altura, dentre outros.
Cada escola ao homologar seu curso, pode propor
alterações no seu programa de treinamento, que obrigatoriamente deve ser baseado neste
manual.
Há escolas que inseriam, no passado, o treinamento de parafuso logo no
Piloto Privado. Hoje em dia, a maioria das escolas não efetuam mais este treinamento, e nem
mesmo o estol em curva.
Como cada escola possui seu próprio programa, pode ser que
um aluno treinado em uma escola, saia com uma formação muito mais apurada do que outro
treinando em uma escola diferente.
Muitos dos iniciantes não sabem destas
questões e não perguntam ao diretor ou ao coordenador da escola sobre o programa de
treinamento ou as manobras desenvolvidas.
Há pilotos privados formados, que
não se sentem seguros em decolar de uma localidade e efetuar uma navegação para
outro local sozinho. Este receio se deve ao treinamento de baixa qualidade.
Há
pilotos que se sentem inseguros com movimentos bruscos da aeronave em condições de
turbulência mais severas. E ainda há pilotos privados formados que se sentem
inseguros em procedimentos de pousos fora do padrão de vento calmo e condições
propícias.
O que acontece na verdade, é que para a proteção
do bem da escola, e pelo motivo da má qualificação de instrutores de voo, os
diretores decidiram zelar pela segurança de uma forma conservadora. E eu dou razão aos
mesmos, neste quesito.
Mas, ao mesmo tempo, o diretor ao fazer isso, atesta que
não confia na capacidade dos seus instrutores. E porque
será?
Acreditamos que:
Primeiro
Problema:
Um instrutor de voo formado recentemente, raramente efetuou um voo
solo, e ainda segue para dar sua primeira instrução de voo sem nunca ter operado uma
aeronave sozinho.
Por falta de conhecimento, as escolas empregam estes instrutores
novatos, inserindo-os na instrução inicial de alunos de Piloto Privado, onde na
verdade, somente um instrutor experiente conseguiria realmente aplicar o treinamento inicial com
qualidade.
Isto garante uma redução BRUSCA do tempo gasto
na instrução, aumentando grandemente a qualidade de formação do Aluno. O
instrutor iniciante, no entanto, tem mais a ensinar e aprender ministrando instrução
para um Piloto Comercial em sua fase inicial de manobras.
Segundo
Problema:
Um instrutor de voo, na maioria das escolas de
aviação, entra não para seguir carreira na instrução, mas para
somar horas de voo para seguir para companhias aéreas. A maioria destes não possui o
feeling para a transmissão do conhecimento. Não possui o fator nato de ser
professor. Um bom instrutor de voo em primeira mão, claro que precisa de saber voar, mas
antes disso, precisa saber ENSINAR.
O curso de Instrutor de Voo homologado pela ANAC nas
Escolas, visa o treinamento pedagógico do profissional. Mas, de certa forma, os alunos deste
curso em grande parte parecem não aplicar os conhecimentos na
instrução.
Para completar, instrutores formados recentemente nestas
escolas, raramente já viram ou preencheram uma Ficha de Instrução
Prática (FIP). Eles acabam chamando estas fichas de FAPS que na verdade somente são
preenchidas pelos examinadores credenciados, que são as Fichas de Avaliação de
Pilotos, regidas pela IS 00.002D.
A maioria das escolas ignoram o treinamento
técnico do Instrutor de voo em suas atribuições diárias. E o INV costuma
lidar com estas atribuições técnicas somente no início do seu trabalho
como instrutor de voo, já ministrando instrução.
Terceiro
Problema:
Os instrutores de voo não recebem um treinamento sobre o
MCA 58-3, que possui no caso, a forma inicial de avaliação. Esta forma tenta
transformar uma avaliação subjetiva em objetiva.
Uma
avaliação subjetiva não é desejável na instrução de
voo, uma vez que tendência a se associar com uma pessoa, que possui mesma crença, ou
valores, afeta na avaliação do instrutor sobre o aluno.
Há
instrutores que acham que é muito bonito dizer que um aluno ou nem ele mesmo, merece uma nota
de avaliação 5.
A ANAC, verificando tal irregularidade, já nos seus
novos manuais de curso, como na I.S 61.002D, que rege a homologação do curso de Voo
por Instrumentos Prático- IFR, extinguiu estes níveis de avaliação,
transformando-os somente em dois níveis, Satisfatório ou
Insatisfatório.
Ainda sim, no curso de Piloto Privado, há os níveis
de Avaliação:
1 - Perigoso;
2 - Deficiente;
3 -
Bom;
4 - Satisfatório;
5 - Excelente.
Alguns pensam: Mas
não há nada excelente, sempre há o que melhorar.
Os
instrutores de voo que normalmente aplicam esta frase, nunca leram ou não entendem os
NÍVEIS DE APRENDIZAGEM listados no MCA, que são:
1 -
Memorização;
2 - Compreensão;
3 -
Aplicação;
4 - Execução;
5 -
Execução já prevista em missão anterior.
Por exemplo, na
missão Pré Solo 01 – PS01, em todas as manobras, sejam elas: Curva de pequena
inclinação, decolagem, pouso e outras, é somente previsto o nível de
MEMORIZAÇÃO onde o aluno não tem obrigação nenhuma de encostar
nos comandos da aeronave. Somente OBSERVAR.
Ainda sim, há alunos que conseguem
nesta mesma missão, taxiar a aeronave, ou até mesmo decolar, acreditem se quiser.
Há alunos que treinam tanto em simuladores, que possuem um rendimento de
operação superior aos demais que iniciam sem nenhum conhecimento.
No
entanto, os instrutores ao avaliar, aplicam o erro de tendência central. Atribuem somente a
nota 3 de AVALIAÇÃO para todas as manobras. No caso, a condição de
SATISFATÓRIO.
Bom, o objetivo da missão OS-01 era avaliar a
MEMORIZAÇÃO do aluno quanto à manobra. Se o aluno consegue no caso além
de MEMORIZAR (responder perguntas), compreender (explicar com palavras o que entendeu) e ainda
APLICAR o que aprendeu, efetuando uma manobra de curva de pequena inclinação por
exemplo, NÃO SE DEVE AVALIAR A MANOBRA EXECUTADA, OU APLICADA, E SIM A
MEMORIZAÇÃO SOMENTE.
Ele memorizou? SIM! MEMORIZOU TÃO BEM que
quase executou a manobra. ENTAO SUA NOTA É 5. MEMORIZOU EM NÍVEL
EXCELENTE.
Saibam então, meus caros, que se um INV não te avalia
corretamente, suas notas e seu treinamento pode ser contestado.
O processo de
Avaliação de Pilotos é tão argumentado, e tão polêmico que
iremos comentar tudo no próximo Journal abordando a I.S 00.002D.
Como se
não bastasse os problemas citados, em um programa de treinamento onde NÃO se
permite algumas manobras, ou treinamentos avançados, cria um aluno mal formado, onde este,
fica engessado a operar a aeronave em condições praticamente perfeitas, onde
praticamente na verdade, o perigo não reside.
O Diretor da escola, deve se
preocupar então, em montar um quadro de instrutores de gabarito, e providenciar um programa
de níveis técnicos de instrução, validando a capacidade de
instrução de cada um deles com aplicação de testes teóricos e
práticos.
Um instrutor que não consegue solar um aluno, não é
um instrutor de nível adequado às instruções do curso de Piloto
Privado.
Um bom piloto começa por sua humildade, onde a palavra vem de Humus,
base, ou chão. Humildade é saber onde se pisa, saber se possui ou não a
capacidade e o conhecimento para o exercício de uma operação ou uma
função.
Um piloto imprudente pode decolar com uma aeronave e tentar chegar
a uma localidade desconhecida, se perder no caminho ou até mesmo fazer um pouso
forçado.
Eu costumo dizer aos meus alunos, que se o treinamento e os pilotos de
hoje em dia fossem bem formados, não estaria sobrando pilotos no mercado, mas sim
SOBRANDO MUITOS SERES HUMANOS QUE TENTAM SER PILOTOS.
Estaria faltando pilotos
com boa qualificação, bom treinamento e boas tomadas de
decisão.
Então como fazer para sanar estes problemas a
princípio?
O aluno inicial, que pretende seguir carreira, e ainda pretende ser
instrutor, deve-se focar no treinamento de alto nível desde o
início.
Será que você, aluno, efetuou todas as manobras
efetivamente? Está apto a se recuperar de um Estol?
E quando digo
Estol, aos amigos instrutores, me refiro ao estol REAL e não ao Pré-estol, que
alguns instrutores sismam em ensinar sem deixar o avião afundar para validar a
recuperação pelo aluno, com receio até mesmo do seu aluno passar mal.
Lembre-se que se não treiná-lo para o pior agora, o pior para ele será
sofrer um acidente por não conhecer uma atitude específica da
aeronave.
Preocupe-se a todo momento com sua qualidade de
instrução. Imagine sim o avião ou o helicóptero em pane a todo momento
do voo. Acredite que isto pode acontecer SIM.
E entre sempre em uma aeronave com a
consciência de que você pode morrer. Assim, abrirá em sua mente a real
necessidade de capacidade OPERACIONAL da máquina, fazendo com que seus pés toquem o
chão novamente.
Respeite as ocasiões, respeite a meteorologia, respeite o
bom instrutor de voo. Respeite a si mesmo.
Sendo assim, escolha uma boa Escola para
treinar. Verifique quantas suspensões de cursos e da própria homologação
esta escola sofreu nos últimos 3 anos. Verifique se a Escola não age contra a lei,
lançando horas de voo que não existem.
Para aprender a consultar sobre a
condição operacional das Escolas de Aviação no Brasil, clique aqui.
Gaste seu dinheiro de forma consciente em um bom
treinamento, e logo poderá encontrar pilotos até mesmo formados em PILOTO COMERCIAL,
que não saberão como tirar uma aeronave do Estado de MG e seguir para Manaus ou operar
em área de denso tráfego aéreo como em São Paulo ou Rio de Janeiro, por
exemplo.
Daí eu pergunto para você: Quem é mais preparado?
Você, um, PILOTO PRIVADO que opera corretamente e com consciência, que tem
segurança no voo, coragem e conhecimento de ir para locais assim, ou um PILOTO COMERCIAL que
somente conhece 4 ou 5 rotas de voo dentro de um mesmo estado?
A vida cobra no
futuro, meu caro. Então, cobre-se agora!
Até o próximo
Journal.
Acredita que pode contribuir? Ficou
alguma dúvida?
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contato@brevett.com.br ou clique aqui.
Redigido por
Marcelo Augusto T. Ribeiro
Diretor da BREVETT Inteligência
Aeronáutica